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Nampula: Quatro Meses Após o Ciclone Jude, Mogincual Ainda Clama por Apoio

Famílias continuam em condições precárias; ajuda chega a conta-gotas e não cobre todas as necessidades

Quatro meses depois do devastador ciclone Jude, o distrito de Mogincual, na província de Nampula, continua a viver uma das suas piores crises humanitárias dos últimos anos. O tempo passa, mas as feridas da destruição permanecem abertas — nas casas, nas machambas, nos rostos das crianças e nos olhos dos pais que lutam diariamente por um recomeço.

A ajuda humanitária tem chegado, mas de forma insuficiente e desigual, deixando milhares de famílias em situação de extrema vulnerabilidade. O cenário é marcado por casas destruídas, alimentos escassos, água potável limitada e uma rede de apoio saturada.

“A chuva entra pelo teto e não tenho como proteger os meus filhos” — Mussa Arlindo, vítima do ciclone

Entre os muitos que tentam reerguer-se, está Mussa Arlindo, um pequeno padeiro e agricultor que perdeu tudo:

“Na machamba não sobrou nada. Estou a sobreviver com a ajuda que recebo para alimentar a minha família. Mas ainda preciso de lonas — a minha casa chove por dentro sempre que cai água”, contou.

Também Maria João, viúva e mãe de cinco crianças, viu sua vida virar escombros em poucas horas. Hoje depende da assistência alimentar da Associação Social de Apoio Comunitário (ASAC):

“Recebi arroz, farinha, feijão e óleo. Mas não tenho panelas para cozinhar. Nem abrigo completo. Parte da casa caiu e só restou uma parede coberta com restos de lona.”


Ajuda Humanitária Presente, Mas Insuficiente

A ASAC, com apoio da FH Association e da Teafunder, tem distribuído cestas básicas, insumos agrícolas e de pesca, e feito a reabilitação de fontes de água. No entanto, o próprio presidente da associação, Mussa Juma, reconhece que os recursos disponíveis não são suficientes para responder à dimensão da tragédia:

“O nosso objectivo é garantir alimentação mínima enquanto as famílias tentam recomeçar nas suas machambas ou na pesca. Mas é claro que ainda há muitos que não conseguimos alcançar.”


Três Desastres em Quatro Meses: Uma Região Sob Pressão

Mogincual não foi atingida apenas por um evento extremo. A região sofreu, num intervalo de apenas quatro meses, os impactos combinados de:

  • Ciclone Chido (Dezembro de 2024)
  • Ciclone Dikeled (Janeiro de 2025)
  • Tempestade Tropical Jude (Março de 2025)

Este ciclo sucessivo de destruição devastou plantações, desalojou centenas de famílias e comprometeu a prestação de serviços essenciais — como educação, saúde e abastecimento de água.


“Estamos a reconstruir com os poucos meios que temos” — Administrador de Mogincual

Apesar das dificuldades, o administrador distrital, João Bento, afirma que os trabalhos de recuperação avançam gradualmente e que já se atingiu 80% de reabilitação das áreas prioritárias.

“Estamos a mobilizar a comunidade para relançar a produção agrícola da segunda época. Mas as inundações destruíram grande parte das culturas. A recuperação será lenta se não tivermos mais apoios”, alertou.

Muitas escolas continuam fechadas, centros de saúde ainda carecem de reparações e a falta de fundos compromete o futuro de milhares de crianças e famílias.


Um Apelo Urgente: Mogincual Precisa de Todos Nós

A situação em Mogincual é urgente. Cada dia sem apoio é uma nova ferida para famílias já fragilizadas por perdas irreparáveis.
É necessário reforçar os apoios, mobilizar recursos, ativar redes de solidariedade e assegurar que ninguém fica para trás.

A reconstrução de Mogincual não pode esperar.
Porque por trás de cada número, há um rosto.
E por trás de cada rosto, um apelo silencioso por dignidade.

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